(Cuca Armond)
Essa noite eu sonhei. Com o seu abraço, duro, triste, cheio de lamentações. Não sei que parte estava mais machucada; apesar de saber que parte sentia mais dor. Então eu chorei; as lágrimas quentes que turvavam os meus olhos petrificados com a sua presença. Eu acordei com um abraço – um abraço de mim mesma, na tentativa de juntar as partes que o buraco dentro de mim tentava aumentar. Eu precisava me manter viva, apesar do breu que se formava em peito: um buraco com as bordas ardendo que nunca cicatrizam. Como se alguém tivesse arrancado o meu coração e deixado uma granada de mão em seu lugar. Eu ainda abraço a mim mesma quando ouço o seu nome, apesar de fazer de tudo pra não pensar nele, pra não pensar nos seus olhos cheios de fome, mas uma fome que certamente não é de mim, não é comigo, não é pra mim. Às vezes é inevitável não pensar, e como dói. E o buraco começou a se rasgar, a me rasgar, a tentar desfazer qualquer vestígio de você. Agora já não dói tanto; não que a dor tenha diminuído, mas acho que estou forte o bastante pra enfrentá-la. Mas o torpor sumiu e a névoa que cobria meus olhos e me impedia de ver as cores do meu quarto escuro desapareceu. Então eu fiquei com medo, eu não sabia o que viria mais forte agora: a dor ou as lágrimas. Não veio nada. Eu esperei, esperei, mas não veio nada; e você também não veio. Agora o buraco em meu peito está dolorido, como se tivesse levado murros; e é exatamente o que acontece cada vez que meu cérebro estúpido faz questão de me mostrar seu rosto cada vez que eu fecho os olhos: eu levo murros. Queria poder exalar essa dor inconstante, cortante, infectante. Mas o cheiro do tabaco já está entranhado nos lençóis, agora tão frios sem o seu peito frio pra esquentá-lo. Eu estou tão fria dentro da sua camiseta, molhada pelas mesmas lágrimas do seu abraço sonhado. Desse sonho, elas foram a única coisa real que sobraram...
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